Como identificar um Dependente de Drogas


Um dos mais graves problemas a ser enfrentado pela sociedade atual é a questão relacionada às drogas tanto no aspecto de seu consumo (demanda) quanto o tráfico ilícito (oferta), bem como os diversos problema psicossociais, econômicos de saúde que situação impõe.
Observa-se que não faltam esforços desenvolvidos pelos governos e pela sociedade civil para o adequado enfrentamento desse problema, infelizmente, todavia, ainda não se observa um movimento de retração em ambos os aspectos e sim ao contrário, um agravamento preocupante desta situação.
Nos últimos 12 meses 185 milhões de pessoas no mundo (4,7% da população mundial acima de 15 anos) consumiram drogas ilícitas. A cannabis (maconha e haxixe) é a droga mais consumida, com 146 milhões de usuários, (3,7% da população mundial acima de 15 anos de idade.

As anfetaminas e o ecstasy estão em 2º segundo lugar,com 38 milhões de usuários (0,9% da população mundial acima de 15 anos). O consumo de cocaína é estimado em 13,3 milhões de pessoas (0,3% da população acima de 15 anos). A heroína, é consumida por 9,2 milhões de pessoas (0,23% da população acima de 15 anos). UNODC,2004.

30% da população mundial fuma, com idade acima de 15 anos. No Brasil 35 milhões de pessoas fumam e 9% são dependentes de nicotina. Em nosso país 85% da população bebe e entre 10 a 13% da população são dependentes de álcool, perfazendo um total de 18 a 23 milhões de alcoólatras. Em nossa população com até 17% anos, 5% destes adolescentes já são dependentes de álcool. O consumo de álcool responde por 10% de todos os casos de adoecimento e morte em todo o país e provoca 60% dos acidentes de trânsito. Provoca 1/3 dos suicídios e 45% dos leitos hospitalares brasileiros são ocupados por alguém com problemas de saúde ocasionados por uso de álcool.

A Organização Mundial da Saúde - OMS, trouxe uma contribuição importante nessa área, que foi a elaboração de um instrumento que nos permite identificar, entre os usuários de drogas, a existência de dependência ou não, já que nem todos que usam drogas são dependentes. Abaixo discorremos sobre esses critério com mais detalhes.

1 - Manifestações fisiológicas, comportamentais e cognitivas características.
Usuários ao se tornarem dependentes mudam sua forma de comportamento e estas mudanças, às vezes indisfarçáveis, são acentuadas. A rigor, mudam inclusive traços caracterológicos e de personalidade. Além do mais, sabe-se que muitas destas alterações psicossociais e comportamentais estão associadas diretamente aos efeitos deletérios das drogas sobre o cérebro, órgão responsável pela nossa saúde ou doença mental.
2 - Prioridade ao uso da substância.
A proporção que a dependência evolui, vai havendo uma espécie de priorização ao consumo da substância em detrimento a outros comportamentos anteriormente importantes, onde o consumo da droga se transforma, cada vez mais em algo relevante para o usuário.
As outras atividades ou interesses, antes importantes, como como por exemplo esporte, artes, estudos, trabalho vão cedendo lugar e sendo substituídos pelo interesse, cada vez maior, pela substância.
3 - Forte desejo de consumir a droga.
Entre nós popularmente chama-se "fissura", e de "craving", entre os ingleses. Representa um desejo sem limites, incontrolável para consumir drogas. Às vezes, isto é tão forte, que os mesmos são capazes de fazerem qualquer coisa, no sentido de adquiri-las: AGREDIR, MENTIR, DELINQUIR etc. Esse comportamento compulsivo é atualmente considerado um dos sintomas mais importante para o diagnóstico da dependência.
4 - Recaídas, após a abstinência:
Recair significa retomar um padrão de consumo da substância que fôra anteriormente rechaçado e este fenômeno está relacionado com a doença. Acontece com certa freqüência com muitos dependentes que deixam de usar e posteriormente retornam ao consumo da droga como o faziam anteriormente. O que se sabe é que, independente do tempo que passaram abstinentes estes usuários ao voltarem a utilizá-las ( recair) passam a fazê-lo intensamente e de forma descontrolada. Cientificamente, fala-se de "memória química da droga". É uma espécie de registro psicofisiológico, neurofuncional e bioquímico que as substâncias desenvolvem no cérebro dos dependentes de tal forma que ao recaiem reacendem essa "memória", fazendo com que os mesmos voltem a adotar o mesmo comportamento de antes e, frequentemente de forma mais intensa e mais grave.
Cabe ressaltar que recaída não quer dizer necessariamente fracasso do tratamento, como se pensava anteriormente, significa tão somente um fato previsível relacionado à clínica da dependência devendo, portanto, os profissionais, os familiares e os próprios enfermos estarem absolutamente informados e conscientes disto, para encararem o fato com serenidade e a partir daí estarem apto para seu correto manejo.
5 - Dificuldade em controlar o consumo.
Os dependentes tem dificuldades de interromper o consumo das drogas quando iniciam o uso tanto no começo, quanto no meio e no fim deste processo. Ao iniciar o consumo não param mais, e prosseguem ininterruptamente, até atingirem altos níveis de intoxicação. Este fato é determinado pela compulsão onde o sujeito fica impossibilitado, literalmente, de frear este consumo A frase clássica para definir isto é : "fulano quando começa a beber não pára mais".
6 - Presença dos sintomas de tolerância.
Tolerância é um fenômeno biológico, que envolve inúmeros mecanismos biológicos e comportamentais e que surge a partir da relação do sujeito com a substância. Quando a tolerância se instala essas pessoas terão sempre que aumentar a doses da substância consumida para obterem os mesmos efeitos adquiridos quando usavam doses menores.
Se alguém começa a beber por ex. aos 15 anos alguns goles de bebidas isto pode embriagá-lo, porém se continuar bebendo, no futuro, vai precisar aumentar esse consumo para obter o mesmo efeito. Isto acontece com todas as drogas que causam dependência, muito embora este sinal não seja imprescindível para o diagnóstico de dependência química.
7 - Sinais de abstinência.
Abstinência diz respeito a uma série de sinais e sintomas de natureza física, psíquica e comportamental em geral desagradáveis que surgem sempre que os usuários interrompem ou diminuem a quantidade da droga consumida.
Algumas pessoas dependentes de tabaco ou de álcool ao deixarem de usá-los ou mesmo por diminuírem suas doses consumidas, passam a apresentar tremores, ansiedade, insegurança, sudorese, taquicardia, insônia, dificuldade na concentração, respiração acelerada ou mesmo outros sintomas mais complicados com crises convulsivas, alucinações e delírios (álcool, cocaína, barbituratos etc), todas estas reações revelam a absinência.
8 - Persistência do uso, apesar dos danos.
A proporção que a dependência avança os usuários não se dão conta dos inúmeros problemas psicológicos, emocionais, sociais ou outros transtorno e por conseguinte não param de usá-las. Dependentes de álcool com cirrose, diabetes, hipertensão arterial, cânceres e diversas outras doenças não param de beber. Fumantes com câncer de pulmão, com problemas cardiovasculares e respiratórios não param de fumar. Pessoas com problemas emocionais, sociais e familiares adquiridos por uso de drogas não impedem que os mesmo parem de usar, e assim por diante.
De conformidade com a OMS se alguém apresentar pelo menos três dos oito aspectos acima citados usuários de álcool, tabaco ou outras drogas e que os mesmos tenham ocorrido nos últimos doze meses, segundo a OMS, esses já apresentam algum grau de dependência.
Prof. Ruy Palhano Silva
Pres. da Academia Maranhense de Medicina\
Prof. De Psiquiatria do Curso de Medicina da UFMA
Especialista em Dependência Química - UNIFESP

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